PAULINO ARAÚJO

Foto: http://istoecampanha.blogspot.com.br/


Raquel de Fátima dos Reis

Paulino Araújo Ferreira Lopes nasceu na cidade de Campanha, localizada ao sul do estado de Minas Gerais, em 22 de junho de 1891. Filho do capitão Eulálio da Veiga Lopes e de Clara de Araújo Ferreira Lopes, mais conhecida por sinhazinha, descendia de duas famílias importantes que se destacavam no cenário social, cultural e político da cidade.


Seus antepassados se ligavam a práticas visuais do período pelo acesso que tinham a determinados tipos de serviços e itens de consumo próprios a uma cultura oitocentista por imagens. Além disso, tinha a prática de guardar fotografias, hábito este que se perpetuou na família Araújo especialmente através da figura de Paulino que foi um colecionador nato.
Em certa medida seus primeiros contatos com a fotografia se deram neste âmbito familiar. Todavia o aprendizado da técnica fotográfica se deu junto ao francês Etienne Farnier por volta de 1907. Essa combinação da tradição familiar, de haver um mestre de ofício na cidade juntamente com a existência de um mercado de trabalho disponível e favorável, dado ausência de fotógrafos e crescente demanda social por imagens, possivelmente foram os fatores que levaram Paulino a se tornar fotógrafo.
Por volta de 1913 casou-se som Guiomar de Melo e tiveram sete filhos, estes conviveram desde cedo com a prática fotográfica do pai, passando a ajudar Paulino na “Photo Araújo”[1], ainda quando crianças, atuando como auxiliares voluntários no momento que tinham livre, cada qual exercia uma função (revelação, retoque, coloração).
Como fotógrafo freelancer atuou por seis décadas em Campanha, especialmente na primeira metade do século XX. Sua trajetória fotográfica é marcada pela criação e permanência da “Photo Araújo” e trabalhos publicados na Revista Alvorada (1928-1930). Sua principal frente correspondia aos retratos fotográficos e serviços de estúdio. Não obstante fazia registros de eventos, retratos fotográficos externos bem como fotografias de paisagem rural e urbana da cidade que se modernizava. Em seu estabelecimento comercial, “Photo Araújo”, também passou a fomentar a fotografia amadora a partir da década de 1930 e 1940, através do empréstimo de câmeras amadoras de fácil manuseio, cobrando dos clientes apenas o filme e a revelação.
Paralelamente, Paulino sempre exerceu a atividade de cortador de vidros, inclusive a venda de vidros passa a figurar entre os materiais que eram vendidos na “Photo Araújo”.
Quanto aos materiais fotográficos que utilizava, estes eram adquiridos em São Paulo. Paulino procurava trabalhar com o que de melhor havia para a época: chapas da Gevaert, câmeras alemãs “Zeiss”, nacionais da Kodac e lentes japonesas.
Ao longo dos anos foi aprimorando sua técnica, isto se dava por meio da experiência, da leitura de manuais e pelo contato com outros fotógrafos como o fluminense João Gomes de Almeida Filho[2] e o paulista Cojima.
A coleção de fotografias da família juntamente com a produção visual de Paulino encontram-se no Centro de Memória Cultural do Sul de Minas (CEMEC-SM) localizado na Faculdade de Filosofia e Letras Nossa Senhora de Sion, associada à Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG- Campus Campanha). Consiste em um acervo em certa medida particular, sendo necessário autorização para pesquisa.
O acervo fotográfico Paulino Araújo se divide em 2 fundos: “Coleção de fotografias da família Araújo” e “Produção visual de Paulino Araújo”. Sendo que a primeira é formada por carte de visite (1870-1913); um daguerreótipo de 1849 e fotografias de finais do século XIX e início do XX de fotógrafos desconhecidos; enquanto a segunda compõe-se de negativos em vidro, fotos originais e reproduções de fotografias que tem como autor Paulino Araújo (1907-1965). No total o acervo possui cerca de 1290 imagens que apresentam um corpus documental bastante interessante para refletir sobre a fotografia e as representações sociais em uma comunidade situada fora dos grandes centros de produção cultural e econômica.
Descrito por seus familiares e contemporâneos como um cidadão que gostava de registrar costumes, famílias e a cidade de Campanha, ele documentou a rusticidade e processo de modernização daquele espaço construindo desse modo uma memória da cidade através de imagens.
Faleceu em 1971, deixando um acervo visual riquíssimo bem como alguns dos materiais fotográficos e câmeras fotográficas que utilizou[3]. A prática fotográfica foi transmitida de geração em geração na mesma família, havendo até hoje, por exemplo, a casa “Foto Araújo” dirigida pelo fotógrafo Almir Ferreira Lopes, neto de Paulino.



[1] A “Photo Araújo” consiste numa casa comercial de fotografia que Paulino Araújo estabeleceu na cidade de Campanha na qual difundia as práticas de autorrepresentação através da imagem.
[2] Ver verbete D’ALMEIDA, João Gomes e ALMEIDA FILHO, João Gomes de.
[3] A coleção de câmeras e materiais fotográficos de Paulino Araújo encontram-se sob guarda de Almir Ferreira Lopes na cidade de Campanha.


Fontes: 
  • Texto: Raquel de Fátima dos Reis in http://www.labhoi.uff.br/verbetesfotografia/node/9 acessado dia 19/07/2016 às 13h.
  • Foto:http://istoecampanha.blogspot.com.br/2015/06/22-de-junho-de-2015.html acessado em 19/07/2016 às 13h29min.

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