Art. 3 - DESCOBRIMENTO DA CAMPANHA (Parte 1)

Cidade da Campanha - 1840 - Litografia de Sisson, encomendada por Bernardo Saturnino da Veiga

Refere Pereira de Magalhães (1) que dois sentenciados, um de nome Montanhez, fugindo das prisões de Vila Rica, enveredaram-se pelo Sul de Minas, e que, ao depois de penosa viagem, encontraram um quilombo, composto de dois pretos, entre os anos de 1710 e 1720. É conta que os pretos viviam tranquilos, "creando porcos", a sentir o vazio do universo. A mal interferência com os brancos, deu-se um conflito, saindo vencedores estes, que logo se assenhorearam das "propriedades da cabana e demais pertences". Ainda: que isto sucedeu pelas alturas da hoje Conceição do Rio Verde, distante da Campanha 52 klm. Seriam eles os fundadores da Campanha?
O dicionarista Milliet de Saint Adolphe escreveu (2) sobre Campanha: - "Deve a sua primeira origem a alguns habitantes de S. Paulo, que exploraram várias partes do Brasil em 1720, esperando encontrar minas de ouro. As cavas que fizeram neste ponto tendo sido proveitosas (3), infinitos aventureiros se lhes ajuntaram, e acabaram por assentarem (4) ali vivenda, e edificaram uma igreja que foi declarada Freguesia quatro anos depois do primeiro descobrimento" (o grifo é nosso).
Refuta-nos, veementemente, Alfredo Valadão (5), do primeiro dizendo ser uma lenda como tantas outras; e do segundo, os termos vagos sobre o povoamento. Quidquid sit, fale a história.
Creada a Capitania de S. Paulo e Minas, consoante carta régia de 9 de novembro de 1709, foi nomeado seu 1 governador D. Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, aos 7 de junho de 1710. seguiu-lhe D. Brás Baltazar da Silveira (31 de ag. de 1713). Aos 2 de dezembro de 1720, D. João V creava a capitania de Minas Gerais. O 1 governador da capitania mineira foi Lourenço de Almeida, seguido pelo Conde das Gálveas, mais tarde vice-rei da Bahia, - D. André de Melo e Castro.
E entramos no governo do conde de Bobadeira, D. Gomes Freire de Andrada, de 26 de março de 1735 a 1 de janeiro de 1763, data de seu falecimento. Governou interinamente a Capitania de Minas Gerais, D. Martinho de Mendonça de Pina e Proença, trazendo plenos podêres da corte portuguêsa para regularizar toda a questão mineira, uma vez que eram frequentes os contrabandos, pois muitos viviam de mineração clandestina.
Despertado o interesse pelas Minas de Vila Rica e Mariana, para lá afluíam grandes expedições, em procura do precioso metal.
Naturalmente, as minas de menor rendimento foram preteridas, o que aconteceu com as do Rio Verde, cuja sede irrefragavelmente era Campanha.
Todavia, o ouvidor de S. João del Rei, Cipriano José da Rocha, conhecedor das riquezas de ouro etc. do Sul de Minas, propõe-se dirigir àquele lugar, para fazer algumas sindicâncias, Foi o que se deu, tendo partido de sua ouvidoria da Comarca do Rio das Mortes, aos 23 de set. de 1737. Xavier da Veiga, Júlio Bueno e Alfredo Valadão reproduzem, em trabalhos históricos, a carta do aludido ouvidor, manuscrito esse encontravel na torre do tombo, vol. I, 1736-1737, referente à Capitania de Minas Gerais. Motivou a vinda de Cipriano José da Rocha, o fato de haver alguns criminosos, no sul da Capitania, explorando as minas do Rio Verde. Criminosos eram aqueles que mineravam clandestinamente, sem pagar imposto. E, com isso, parece desfazer-se o equívoco em que laborou Pereira de Magalhães, quando arquitetara a história dos evadidos de Vila Rica. Foram esses criminosos que o ouvidor joanino encontrou, em sua viagem de represália às ordens régias.

Continua...

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(1)- Almanak de Minas Gerais, 1865.
(2)- Pag. 210 do 1 vol. de seu Dicionário Histórico e Geografico do Brasil.
(3)- Galicismo fraseológico: proveitosas as tentativas...
(4)- assentar, portuguêsamente falando.
(5)- op. cit. pag. 52 e nota da pag. 42.

O texto foi transcrito literalmente obedecendo as normas de ABNT. Esta é a segunda parte de sete que trago do PRIMEIRO CAPÍTULO, publicado no 7 Anuário da Diocese da Campanha, páginas 14, 15 e 16.

Fonte:
LEFORT, Mons. José do Patrocínio. Anuário da Diocese da Campanha. Ed.7. Campanha, 1946.
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