Art. II - HISTÓRIA SUL MINEIRA

Mapa de toda a extensão da Campanha.

Motivos diversos impeliram os bandeirantes para o sertão. O povo necessitava expandir-se, mesmo que fosse à cata de aventuras. Além das ordens régias de D. João III, mandando "incentivar os descobrimentos do interior", outros intúitos animavam a nova colônia lusitana. É que o interland oferecia riquezas para todos os bolsos, condimentos para todos os paladares, vantagens para todos os que amam o desconhecido. O resultado das expedições, então formadas, foram os numerosos núcleos, que se esparramaram, logo, por todos os recantos do Estado.
Lá pelo ano de 1553, Francisco Bruza de Espinosa ("castelhano egresso do Perú, e que gozava da reputação de muito prático em pesquizas de jazidas metálicas>> (1), contratado por Tomé de Souza, aventurou-se, no governo de Duarte da Costa, a penetrar nos sertões das Gerais (2). Desses doze expedicionários, que partiram de Porto Seguro, fazia parte, na qualidade de capelão constituido, o padre João de Aspilcuêta Navarro, que foi "o primeiro sacerdote que celebrou missa em território mineiro" (3). Essa expedição chegou até o rio Grande (Jequitinhonha), rio Pardo e, certamente, S. Francisco (4).
Nem um decênio depois, o Sul de Minas era perlustrado, igualmente, pelos bandeirantes. Assim é que, em 1560, no dizer de Huberto Turner (5), Braz Cubas, "partindo de Lorena, onde se reuniram os bandeirantes, vadeou o rio Paraíba, perto de Bocaina, e entrando logo no desfiladeiro do Embaú, alcançou o Sul de Minas", tendo explorado "as nascentes do rio das Velhas".
"Doi anos após, outra expedição operou no vale do rio Verde, comandada por João Ramalho. Esta conseguiu vadear longo trecho desse rio",... para, ao depois, retroceder, "reduzida a frangalho humano" (6). Tambem o ano de 1562 assinada, no dizer de Furtado de Menezes (7), a expedição de Vasco Rodrigues de Caldas, pelo rio Paraguassú, não chegando, ao que parece, "a pisar o solo mineiro".
"Em 1570, mais ou menos, Martim Carvalho partiu de Porto Seguro com cincoenta companheiros e meteu-se pelo interior, rasgando-o até o Rio das Velhas". (8)
Antes de morrer o século XVI, uma bandeira fluminense, de quem era chefe Martins Correira de Sá, "partiu do Rio de Janeiro a 14 de outubro de 1597, com um exército de 7.000 portuguêses e 2.000 índios domesticados, mulatos mamelucos ou caribocas e cafusos" (9). Dessa expedição, alem de Henrique Barraway, se destacou Antônio Knivet, "o célebre marinheiro de Cavendish" (10). Dizem que a finalidade dessa expedição era "socorrer os gaianazes, que tinham sido acometidos pelos tamóios". A ferro e fogo, violência contra violência, atingiram a "região das cabeceiras do Sapucaí e do Rio Verde"(11). No entanto, <<foram surpreendidos pelos Cataguás beliciosos. Enquanto seus companheiros pereciam, Knivet fugiu, tomando o caminho do litoral" (12), onde pôde recompor a audaciosa peregrinação.
"No ano de 1598 Francisco Dias d'Avila, Calabar e Glimmer, saindo de S. Paulo pelo rio Araraquara, ou Jaguari e Paraíba", arribaram perto do atual Cruzeiro, onde tomaram fôlego para cortar a Mantiqueira e descer, ao depois, o "Capivari e o rio Verde" (13). Todavia, eram tantos os embaraços...
"Em 1601, D. Francisco de Sousa, de estadia em S. Paulo, fez dali partir para os sertões, em busca de minas de prata, uma leva de homens, comandados por André de Leão, da qual qual fazia parte o holandês Guilherme Glimmer (Wilherm Joost ten Glimmer) que, através de João de Laet, nos transmitiu, em obra de Piso e Marcgraff, o roteiro preciso daquela jornada sertanista" (14). A reconstituição do dito roteiro, feita por Orville Derby, demonstra que a famosa bandeira partiu de S. Paulo, e seguiu "o curso do Paraíba, desde onde hoje é S. José dos Campos até Cachoeira, aí galgando a Mantiqueira, rumo de Pouso Alto e Baependí, atravessando o Angaí, o Rio Grande etc." (15). Sobre o mesmo fato, comenta o historiador campanhense, min. Alfredo Valadão, (16), a seu favor invocando a autoridade de Capistrano de Abreu.
Seguiram-lhe outras bandeiras, e mais outras, notadamente as de Felix Jacques (1646), João Correira (1660-1664), (17) à quase todas, levando vantagens, a de Fernão Dias Paes Leme, segundo patente governamental, de 20 de outubro de 1672. Esse bandeirante, unindo-se com o não menos intimorato Matias Cardoso de Almeida, <<em 1673, segundo uns, ou segundo outros, em 1674,>> (18), partiu com numerosos escravos e companheiros, chegando ao rio Passa Quatro, Baependi, rio Grande, etc. tendo fundado o arraial de Ibituruna. Malograda a expedição, com episódios de uma tragicidade a toda prova, Fernão Dias, na memória dos pósteros, foi sagrado o mais intrépido bandeirante pisou solo mineiro. <<É com justiça que se atribue a Fernão Dias o titulo de fundador de Minas Gerais>> (19).
Em 1678, Diogo Gonçalves Laço e Francisco Proença, moço fidalgo da Câmara do Infante D. Luis de Sousa, tomando o rumo de Araraquara e Mogi, tambem alcançaram, após ingentes esforços, o leito do Sapucaí (20).
E assim, muitos arraiais e povoações foram, aos poucos, se formando.

_________________
(1)- Clero Mineiro, de Furtado de Menezes, vol. 1.
(2)- Capistrano de Abreu, de uma transcrição em o fasc. II, 1901, da revista do Arch. Publ. Min., pag. 365.
(3)- Clero Mineiro, op. cit. pag. 14.
(4)- Capistrano de Abreu, op. cit. e Diogo de Vasconcelos, na História Antiga de Minas Gerais, pág. 11.
(5)- Ex - Brasão do Município, 1936, apud Sinésio Fagundes.
(6)- Sinésio Fagundes, em Rteiro de S. Lourenço pág. 23.
(7)- Clero Mineiro, pag. 4.
(8)- Côn. Trindade, 1 Vol. Arquidiocese de  Mariana, pag. 78.
(9)- Roteiro de S. Lourenço, pag. 23 e 24.
(10)- Alfredo Valadão, em Campanha da Princeza, vol. 1, pag. 39.
(11)- Teodoro Sampaio, na Peregrinação de A. Knivet no brasil do século XVI, apud Valadão.
(12)- Roteiro de S. Lourenço, pag. 24.
(13)- O Liberal Mineiro, de ouro Preto, Números de 1885 e 1886, transcritos na Rev. do Arch. Publ. Mineiro, ano VII, pag. 28.
(14)- José Alberto Pelúcio em Baependi, pag. 10.
(15)- Alfredo de Escragnolle Taunay, no S. Paulo do séc. XVI, op. cit.
(16)- Campanha da Princeza, p. cit. pag. 45 e 46.
(17)- Roteiro de S. Lourenço, op. cit. pag. 24.
(18)- Clero Mineiro, op. cit. pag. 5.
(19)- idem, op. cit. pag. 7.
(20)- Diogo de Vasconcelos, op. cit. pag. 22.


O texto foi transcrito literalmente obedecendo as normas de ABNT. Esta é a segunda parte de sete que trago do PRIMEIRO CAPÍTULO, publicado no 7 Anuário da Diocese da Campanha, página 11, 12, 13 e 14.

Fonte:
LEFORT, Mons. José do Patrocínio. Anuário da Diocese da Campanha. Ed.7. Campanha, 1946.
Imagem: http://www.sebocultural.org.br/2014/02/20/livro-de-artista-em-campanhamg/ acessado em 1/08/2016 às 15h.

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